A primeira coisa que você provavelmente vai escutar sobre a Luisa Geisler é que ela tem 21 anos e dois livros lançados, sendo um deles um romance. A segunda coisa é que ela é a autora mais nova dos selecionados na lista da Granta – 20 melhores jovens escritores brasileiros. Se isso não é motivo pra ficar ao menos curioso sobre o que ela escreve, quem sabe essa resenha possa contribuir um pouco.

Quiçá é a história de confrontos de personalidade, que acabam por se tornar encontros. Clarissa é uma menina de 11 anos, disciplinada e que procura sempre tirar as melhores notas para orgulhar os pais, que parecem estar sempre mais preocupados com suas próprias vidas e carreiras publicitárias. Seu primo Arthur, 7 anos mais velho, acaba de se recuperar de uma tentativa de suicídio e tem seu corpo marcado por tatuagens e alargadores, além de ser contestador e rebelde. Arthur acaba se mudando de sua cidade para passar um ano letivo com Clarissa e seus pais, Lorena e Augusto.

A primeira coisa que chama atenção é a forma extremamente fácil de ser compreendida com a qual o livro é escrito. Luisa não tem medo de incorporar a modernidade e tecnologia à sua narrativa e até brinca com isso, quando fala, por exemplo, da TV da sala de estar que é Full HD com conexão à internet, 3D e 52 polegadas (e repete essa informação exaustivamente, toda vez que a TV é citada, afinal, atributos como esse contam para Lorena e Augusto e toda uma sociedade consumista).

A estrutura, contudo, não é tão previsível e simples como a linguagem. Contado de forma não linear, a narrativa se divide em três núcleos: os “capítulos principais”, que retratam os encontros de Arthur e Clarissa, um almoço de Natal em família, que aparece de forma natural e sem avisos no fim de cada capítulo principal, e capítulos quase que à parte da história, os quais retratam breves momentos nas relações humanas, seus finais, crises ou segredos.

Graças a essa estrutura, a história consegue se manter em um ritmo interessante do início ao fim. Em alguns momentos, no entanto, senti a sensação de repetição e “mais do mesmo”. Isso pode ser por conta da própria ambientação do romance, que é o cotidiano. Arthur e Clarisse, por exemplo, já são amigos. Lorena já não gosta do menino e Augusto o defende. Seguem-se páginas em que a relação dos dois é explorada sem nenhuma grande novidade. As mudanças de Clarisse são lentas. É claro, há momentos que salvam e fazem o leitor voltar ao pico de sua atenção, como quando nos aprofundamos na relação entre Augusto e Arthur, ou quando o menino ajuda Clarisse a recuperar seu gato, no meio da noite.

Quiçá tem muito em comum com O que você está fazendo aqui, conto da autora que faz parte da Granta. Ambos adotam o mesmo estilo simples na escrita e questionam o trabalho como prioridade das vidas. Será que precisamos mesmo seguir todas as regras, conseguir aquele emprego ou ir à escola?