Se tudo correr do modo que a Autoridade Palestina espera, no próximo mês de setembro, a Organização das Nações Unidas deverá votar a resolução que aceitará (ou não) a Palestina como um de seus países membros. A direita sionista israelense e os todos que são antipáticos aos árabes ao redor do mundo estão em pânico, enquanto que a minguada esquerda do país judaico, os países árabes e os defensores da causa palestina de maneira geral, exultam.

O ingresso da Palestina na ONU faria com que a comunidade internacional como um todo aceitasse a existência de uma nação árabe palestina nos limites fixados após 1967, o que caracterizaria as ocupações à que Israel submete alguns territórios palestinos como um ato criminoso perante o direito internacional e passível de ser punido com uma série de sanções.

Esse é mais um capítulo da longa história de conflitos entre os israelenses e as populações árabes palestinas. Tudo começou em 1948 com o fim do Mandato Britânico da Palestina, e as disputas entre os colonos judeus e os nativos árabes. De lá para cá, o projeto de independência dos árabes e a ideia de direito histórico e expansão da nação israelense resultaram em um grande derramamento de sangue.

É pouco conhecido, porém, o fato de que a resistência palestina não se faz apenas de paus, pedras, armas de fogo e explosivos. Do mesmo modo que Israel utilizou da literatura, do teatro e, especialmente, da poesia, para justificar seus atos, a palestina tem seus poetas-guerreiros. E é um pouco desse universo que essa antologia, hoje rara,  busca nos trazer.

Publicado em 1981, traduzido a partir de uma edição cubana- que havia sido publicada a partir de uma edição francesa, essa sim tendo utilizando as fontes originais em árabe- Poesia Palestina de Combate reúne inúmeros autores que, a partir do final dos anos 1960, expressaram não apenas a dor, mas também a raiva e a indignação de seu povo através de versos.

Mas os poemas presentes em Poesia Palestina de Combate nem sempre tratam exatamente ou estritamente do drama palestino. São, na verdade, um libelo contra toda forma de racismo e opressão.  Outras vezes, ainda, celebram a cultura árabe. Em outras são um chamado, se não às armas , pelo menos à revolução.

Um prefácio de Farid Suwwan e uma introdução de Abdellatif Laâbi (que foi quem selecionou os textos), além de uma série de notas, enriquecem a antologia, dando informações sobre os poetas, sobre os conflitos e sobre o papel da poesia na resistência cultural palestina, além de mostrar alguns anacronismos: ao mesmo tempo em que os países árabes celebraram poetas como Mahmud Darwich, eles censuraram seus versos de teor comunista.

Fechando o livro, existem alguns ensaios escritos por alguns dos poetas presentes na coletânea, que aproximam ainda mais o leitor da vida desses ‘palestinos exilados na palestina’- e que além de dar uma maior compreensão do lado que costuma não ter voz no conflito, contextualiza o conteúdo da antologia de modo efetivo.

 PS: Depois de ler o livro e escrever esse texto, descobri que, ao que parece, uma segunda edição da coletânea, revisada e ampliada, foi lançada em 2010. Não tive, no entanto, acesso a ela, e não sei o que foi adicionado e nem se, dessa vez, a tradução foi de uma versão mais próxima aos textos originais. A imagem é da capa dessa edição.

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