Cees Nooteboom, por Siegfried WoldhekEscritor premiado e badalado: até na FLIP já esteve presente. Em um de seus livros mais famosos, fala sobre o caminho de Santiago de Compostela. Não, não estou falando do Paulo Coelho, mas do holandês Cees Nooteboom.

Nooteboom nasceu em Hague, em 1933. Na Segunda Guerra Mundial, ainda bastante jovem, perdeu o pai em um bombardeio. Sua mãe casou-se uma segunda vez em 1948, e ele foi enviado para um colégio católico, administrado por monges Franciscanos e Augustinianos. Não chegou, porém, a terminar o ensino médio: abandonou o colégio para viajar pela Europa, que resultou em seu primeiro romance: Philip en de anderen (“Felipe e os outros”, inédito em português) em 1955, laureado com o Prêmio Anne Frank. Na ano seguinte publicou um volume de poesias, De doden zoeken een huis (algo como “Os mortos procuram por uma casa”).O ato de viajar, aliás, sempre foi uma constante na vida de Nooteboom, e reflete-se em sua obra. Desde 1963 publica guias de viagem. Seu De omweg naar Santiago (“Os Caminhos para Santiago”, 1992) é uma coletânea de suas viagens pela Espanha, com destino a Santiago de Compostela – desviando-se, porém, inúmeras vezes.

Em 1963 publicou o romance De ridder is gestorven (“O cavaleiro está morto”, outro inédito no Brasil), após o qual ficou 17 anos sem publicar um romance, dedicando-se aos guias de viagem e à poesia. Em 1967 tornou-se o responsável pelas seções de viagem e de poesia da Avenue, uma das maiores revistas de seu país.

Seu retorno à prosa foi com Rituelen (Rituais, esse lançado aqui), grande êxito que chegou incluse a tornar-se um filme. No livro, dividido em duas partes, Inni Wintrop conhece – com o intervalo de alguns anos – dois homens, Phillip e Arnold Taads, que descobre ligarem-se por linhas bastante tênues: a paternidade e o suicídio. Com referências à religião, à cerimônia japonesa do chá e a Yasunari Kawabata, o livro é típico (e bom) Nooteboom: o conflito e o vazio coexistem de uma forma fluente, apesar de pouco harmoniosa. Mas não acho que seu tema central seja a morte, mas a imprevisibilidade.

O tema é retomado mais tarde em Allerzielen (Dia de Finados, 1999) e Paradijs Verlooren (Paraíso Perdido, 2004).

No primeiro, um cinegrafista de documentários que perdeu a mulher e o filho em um acidente aéreo faz um documentário sobre algo que nem ele sabe direito o que é, quando conhece uma mulher que pesquisa uma obscura rainha espanhola. Aqui, além da imprevisibilidade, existe uma ânsia de fazer parte, e não apenas se deixar arrastar pela história: o documentarista insiste em que sua sombra apareça em seus documentários, para que, mesmo que de forma tênue, ele esteja lá, e não seja apenas um espectador do tempo.

Paraíso Perdido tem um quê especial para nós, brasileiros: uma das protagonistas é Alma, brasileira descendente de alemães, que estuda história da arte e é estuprada numa favela do Rio de Janeiro. Junto com uma amiga (cuja existência, talvez, seja duvidosa), exila-se na Austrália em busca de uma cura para seu seu trauma, procurando aceitar que o universo tem desígnios próprios, indiferente aos anseios e dores humanos. Em uma segunda parte surge o “Angel Project”, que realmente aconteceu e do que Nooteboom presenciou: as pessoas deveriam seguir um caminho determinado e nele, procurar atores e atrizes fantasiados de anjos.

Nooteboom já recebeu, além do supracitado prêmio Anne Frank, os prêmios Pegasus (1982) e Multatuli (1985) pelo romance In Nederland (Nos países baixos). Recebeu ainda o prêmio Europeu de Literatura de melhor romance por Vet folgeende verhal (A Seguinte História, 1991). Além disso, faz alguns anos que Nooteboom figura na lista de possíveis laureados com o Nobel. Talvez não demore.

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